Para fechar o ano, Luciana Chama entrevista o ator André Dias – destaque dos palcos brasileiros com o espetáculo “Avenida Q” e, juntos, revelam como o público tupiniquim tem recebido os grandes musicais americanosAndré Dias é, sem dúvida, um dos talentos mais representativos do teatro brasileiro da atualidade. Acompanho seu trabalho como ator há muitos anos e justamente quando não tenho como assisti-lo ele desempenhou o papel pelo qual recebeu indicação ao prêmio Shell 2009, virou assunto na boca do povo e chamou a atenção do diretor Daniel Filho, que o presenteou com o papel de Emmanuel no filme sobre a vida de Chico Xavier. Quando meu editor sugeriu a pauta sobre uma retrospectiva, não hesitei em chamar o ator da vez para trocar figurinhas sobre a influência da cultura americana por trás dos maiores sucessos de bilheteria de 2009 nos palcos brasileiros:
Luciana Chama – “A Noviça Rebelde”, “O Despertar da Primavera”, “Hairspray” e “Avenida Q” tiveram grande destaque em 2009. Qual a relevância cultural dessas montagens para o público brasileiro?
André Dias – Eu acredito que a relevância está em pegar aspectos universais de “A Noviça Rebelde” e das outras obras que você citou e ter a liberdade de transpor para a realidade sócio-cultural brasileira. Senão não tem muita graça, vira show dos ursos do playcenter! Já existe um preconceito muito grande dentro da própria classe teatral e de parte da mídia com relação ao teatro musical, independentemente de saber se a montagem é boa ou ruim. Mas o público já comprou a ideia do musical e é um grande sucesso. Um espetáculo bem montado e executado vai tocar a plateia, sim. Principalmente se ele tiver a linguagem de acesso daquela população local que vai assistir. A montagem original de “O Despertar da Primavera” é interessantíssima quando mescla o teatro brechtiniano alemão com a linguagem do musical da Broadway. Esse tipo de espetáculo requer uma técnica muito grande por parte do ator e, por conseqüência, aprimora o trabalho de uma forma muito intensa. É isso que me interessa: o know-how técnico tanto de atuação quanto de execução dos espetáculos. Eu não sei qual a relevância cultural de se montar musicais da Broadway aqui, mas eu, como artista brasileiro, quero saber é o que a gente vai fazer com esse know-how. Ninguém faz espetáculo tecnicamente melhor do que eles, então, vou sugar essa experiência para contar as nossas próprias histórias.
LC – Você concorre ao Prêmio Shell por protagonizar o espetáculo “Avenida Q”. Com todos os papéis importantes que já representou nesses seus 18 anos de carreira, foi manipulando boneco que mais chamou a atenção da crítica. Qual a importância desse espetáculo no cenário contemporâneo do teatro americano e do nosso País?
AD – Foi um desafio técnico muito grande ter que cantar, interpretar, dançar e dar vida a dois bonecos diferentes e que contracenam entre si – além do exercício enorme de resistência, de paciência e de domínio da ansiedade e do ego, porque a grande estrela é o boneco! O correto é que a platéia olhe para o meu rosto e veja o rosto do boneco, e olhe para o rosto do boneco e veja a minha expressão. O “Avenida Q” é um marco do libreto norte-americano porque se utiliza de uma forma inédita para falar o que a sociedade americana mais odeia, que é falar mal de si mesma. Os bonecos são o filtro para poder ser politicamente incorreto e falar das coisas que ninguém quer ouvir, de homossexualidade, prostituição, de rir da desgraça alheia, que no final todo mundo se identifica e cai na gargalhada. Enquanto as crianças têm programas infantis para ensinar como é a vida, o que o autor do libreto quis fazer foi um programa educativo para jovens adultos. É um exame de consciência.
PRÊMIO DE TEATRO EVENING STANDARD ANUNCIA VENCEDORES
O prêmio britânico Evening Standard anunciou, dia 23 de novembro, os ganhadores do ano de 2009: a montagem de “Jerusalem”, de Jez Butterworth, saiu-se vencedora nas categorias de melhor espetáculo e melhor ator (para o protagonista, Mark Rylance). O prêmio de melhor diretor ficou com Rupert Goold, pela peça “Enron”; e Rachel Weisz sagrou-se melhor atriz por sua interpretação de Blanche DuBois em “Um Bonde Chamado Desejo”. Além deles, o experiente Ian McKellen recebeu o prêmio honorário por sua longa trajetória no teatro britânico. Entre as novidades, a categoria de melhor atriz foi rebatizada com o nome de Natasha Richardson, em homenagem à intérprete que morreu em um acidente no começo do ano.
CATE BLANCHETT ESTREIA “UM BONDE CHAMADO DESEJO” EM NOVA YORK
Vencedora do Oscar, Cate Blanchett surge nos palcos do Brooklyn Academy of Music no famoso papel de Blanche DuBois, da peça “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tennessee Williams. A montagem, conduzida pela atriz sueca Liv Ullmann, é uma produção inteiramente australiana que estreou em solo norte-americano no Kennedy Center, em Washingtonn DC.
“CARRIE, A ESTRANHA” GANHA VERSÃO NA BROADWAY
Em 2010, os palcos de Nova York se preparam para receber a adaptação teatral do livro “Carrie: A Estranha”, de Stephen King, obra que se tornou famosa no cinema. Esta é a segunda vez que tentam levar para o teatro a história da jovem com poderes sobrenaturais que se vinga de seus colegas de escola. Intitulada “Carrie: The Musical”, a peça já conta com elenco todo formado e tem na sua produção nomes como Jeffrey Seller e Kevin McCollum, dupla que levou para os palcos as bem-sucedidas “Rent” e “Avenida Q”.
MONTY PYTHON ARRANCA GARGALHADAS NO TEATRO
Famosos por suas incursões na televisão britânica e por suas comédias no cinema, o grupo inglês Monty Python tem feito bastante sucesso também nos palcos. Eric Idle, um dos integrantes originais do grupo, foi o responsável por transpor para o teatro a história do filme “Monty Python e o Cálice Sagrado”, sátira às histórias de cavalaria do Rei Artur. Estão lá todos os elementos que fizeram o sucesso do grupo no cinema, inclusive o humor politicamente incorreto e o sarcasmo britânico que são tão característicos do Monty Python.
MUSICAL INSPIRADO NA VIDA DE ANDY WARHOL ESTREIA NA BROADWAY
“Pop!” é o nome do espetáculo que irá estrear mundialmente no dia 3 de dezembro e que retrata a vida de um dos artistas plásticos mais influentes do século XX, Andy Warhol. O espetáculo, concebido pela dupla Maggie-Kate Coleman e Anna K. Jacobs, centra a trama em um episódio específico da vida de Warhol: o atentado que sofreu em 1968 e que influenciou toda sua a carreira posterior. Além de contar com Randy Harrison no papel principal, a montagem também explora outros personagens famosos que perambulavam pelo círculo do artista naquela época: a transexual Candy Darling, a feminista Valerie Solanas e a eterna musa do artista, Edie Sedgwick.
Nenhum comentário:
Postar um comentário