Famosa por seus trabalhos como atriz na televisão, Maitê Proença, tem firmado seu lado intelectual como escritora, seja através de livros, ou de peças teatrais como o atual cartaz: “As Meninas”, sua segunda incursão na dramaturgia, mais uma vez acompanhada pelo fiel parceiro , o comediógrafo Luiz Carlos Góes. A partir de uma conhecida tragédia pessoal da vida da autora, a peça se passa no velório de uma mulher que foi assassinada por seu marido. No centro da história, duas garotas: a filha, que viu a mãe ser morta pelo pai, e sua curiosa e participativa amiga, um tanto sem noção da gravidade do acontecimento. As meninas, ao lado da avó turrona e de outras integrantes do núcleo feminino da família, tentam compreender a desgraça que se abateu sobre elas enquanto rememoram histórias do passado deste matriarcado. O irreverente texto tem como maior encanto mostrar como as crianças encaram a morte, a visão pueril e, ao mesmo tempo, assertiva, numa espécie de crítica aos comportamentos adultos, que fazem assim um acerto de contas com a própria lembrança. Mérito também é a sensibilidade com que os atores trabalham a comédia num tema tão solene e triste, fugindo de qualquer morbidez, e apostando que é possível, sim, fazer graça mesmo com a morte das mais violentas, revezando risos com lágrimas, afinal, além de engraçada, a peça é comovente e possui grande beleza em seus diálogos. Amir Haddad, diretor da montagem, caminha em duas linhas paralelas que se cruzam em derminado ponto: uma é a excepcional condução de suas atrizes e a fruição da cena, outra é a quebra com o uso de canções populares interpretadas pelo elenco. Este recurso, apesar de aumentar desnecessariamente o espetáculo, funciona como um respiro à uma possivel clausrofobia temática. No que diz respeito ao elenco o destaque é Patrícia Pinho, que cria a prima amiga com certo distanciamento e autoironia, em uma interpretação deliciosa de ver e que rouba a cena. Já Sara Antunes – cujo talento já mostrou em montagens do grupo XIX de teatro – não se sai tão bem, por se levar a sério demais e pesar o drama da orfã. Vanessa Gerbelli faz a falecida de forma delicada e comedida, enquanto Analu Prestes é um pouco prejudica pela forte caracterização da avó. Completa o time Clarice Derziê Luz, que exibe grande versatilidade dando vida a diversas personagens, sempre com humor. Com um texto muito bom e ótimas interpretações, “As Meninas” é uma feliz surpresa que faz o público rir e se emocionar, refletindo sobre nossa forma de encarar a tragédia em nossas vidas.
Serviço: Teatro Cultura Artística Itaim
Sexta 21h30, sábado 21 e domingo 18h
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