AE - Agência Estado
É difícil abandonar a máscara. Porque, por vezes, ela se
cola de tal maneira ao rosto que a carrega que já não se sabe mais qual
é a verdadeira face. Será que há uma face que seja a verdadeira?
Para fazer Os Bem-Intencionados, o grupo Lume levou 12 anos
construindo seus personagens. São figuras de traços histriônicos,
escondidas por trás de suas perucas, apliques e enchimentos.
Curiosamente, porém, é por meio desses seres travestidos que a notável
companhia de Campinas consegue despir-se das amarras de sua técnica.
Depois de 27 anos de trajetória, lança-se por território inexplorado.
O trabalho corporal, que sempre teve primazia nas investigações do
Lume, foi momentaneamente abandonado. "A peça surge de uma inquietação
com o nosso próprio trabalho. Do que a gente precisa para não ficar
preso dentro de moldes?", reflete o ator Carlos Simioni. "Em todos esses
anos, nunca havia me sentido tão desprotegido em cena."
A encenadora e dramaturga mineira Grace Passô, conhecida por seu
trabalho à frente do grupo Espanca!, assumiu o leme do novo espetáculo.
Nele, os personagens merecem mais relevo que os aspectos físicos.
"Porque toda a técnica do Lume é só um apoio para que algo muito maior
aconteça", acredita a diretora.
O enredo - que capta os integrantes de uma banda e suas inquietações -
serve de espelho para que a trupe se auto examine. Em um cenário que
tem feições de salão de baile, o público se acomoda em mesas. Verá os
percalços de sete aspirantes a músicos. Pessoas que, durante o dia,
levam uma vida comum. Possuem seus empregos e problemas. Mas que, à
noite, reúnem-se cheios de boas intenções e acalentados pelo sonho de um
dia fazer sucesso. A direção musical de Marcelo Onofri traz piano,
percussão e acordeão para acompanhar os atores no repertório: de Nina
Simone a Fabio Jr.
OS BEM-INTENCIONADOS - Sesc Pompeia. Espaço Cênico. R. Clélia, 93, 3871-7700. 4ª a sáb., 21 h; dom., 19 h. R$ 24. Até 30/9.
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