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quinta-feira, 11 de março de 2010

ALICE NO PAIS DAS MARAVILHAS


Fiquei impressionado com a voracidade da crítica americana em falar mal deste novo filme de Tim Burton. Talvez tenha sido o excesso de expectativa provocado por suas belas fotografias promocionais – em especial, de Johnny Depp, como o Chapeleiro Louco e Helena Bonham Carter, como a Rainha Vermelha.
A verdade é que o filme não é isso tudo que se esperava e realmente não vai ganhar nenhum Oscar no ano que vem. Do que os críticos reclamam a gente já sabia: Burton é ótimo em direção de arte, em imaginar situações, mas nem tanto dirigindo cenas de ação (por vezes fracas, no máximo, banais), nem mesmo é grande coisa ao narrar uma história.
Mas é um autor, um sujeito que tem um universo próprio - coisa cada vez mais rara hoje em dia. E já estava na hora de ser reconhecido e levar seu Oscar para casa, embora já tenha de curta.
Toda vez que ele se meteu a fazer um filme normal, não deu certo – como O Planeta dos Macacos. Mas não se pode dizer que Alice não seja diferente. Esta é uma adaptação não apenas dos dois livros de Lewis Carroll como também de Jabberworcky.
Acho bom confessar minha pouca familiaridade com o texto, que nunca li, e as lembranças da infância não são do desenho da Disney, que foi o maior fracasso do estúdio e o primeiro a ser liberado para a televisão.
Nos anos 70, teve certo prestígio por causa das sequências lisérgicas e originais com os soldados da rainha, que são espetaculares
Mas eu me lembro melhor do disquinho de João de Barro, que reproduzia em português a história do Coelho sempre correndo, dizendo que estava atrasado (isso fica de passagem no filme), a lagarta que fumava (ópio?).

O filme aqui mantém o fumo e a fumaça, embora sendo para crianças, e deixa no ar o clima de droga. O gato que tinha um sorriso e voava no ar. E a rainha que gritava: “cortem-lhe a cabeça”!
Não é exatamente uma refilmagem, mas uma continuação. Burton não quis fazer o filme com uma menina, preferiu uma adolescente e tudo começa com um longo problema, em que a garota (feita por uma atriz com cara de enjoada, sem maior carisma, o primeiro grande erro) está para ficar noiva de um nobre chato.

Mas ela age de maneira absurda para a época (a conclusão também é igualmente fantasiosa) e sai correndo atrás do coelho. Ela acha que tudo é um sonho e só ao final, lembrará que, quando criança, esteve no reino subterrâneo.

Repetem-se então os encontros, ela ficando gigante e pequenina, só que dando mais destaque à figura do Chapeleiro Louco e da Rainha Vermelha (na parte final, entrará também a rival dela: a Rainha Branca, com Anne Hathaway e uma maquiagem ingrata, que não a favorece).

Os dois (Helena sendo a atual esposa de Burton) são o ponto alto do filme. Depp se arrisca novamente e consegue fazer mais outra figura bizarra e excêntrica – sua especialidade -, mas sem se repetir. Consegue criar um maluco a mais. O filme tem diálogo que afirma que todo mundo que é bacana tem um pouco de louco, o que felizmente é verdade.

Com o cabelo laranja e uma concepção formidável, ele acaba se envolvendo na luta pelo poder, nas perseguições (tem cachorro amigo, um monstro que ajuda Alice) até a esperada luta não muito climática com o Jaberworcky. Também deu certo a figura da Rainha, com sua cabeça enorme e o corpo pequeno, um efeito muito bem realizado.

Embora ela fique o tempo todo de mau humor e lhe faltem nuances, é uma figura muito forte. Sua selvageria foi reduzida um pouco, mas ainda tem um rio coberto de cadáveres em volta de seu castelo e ideias que reconhecemos do desenho (como jogar cricket com um pássaro flamingo em vez de bastão).

Não acho que funcione muito a dancinha do Chapeleiro e depois da Alice, fora de contexto de época (a plateia ensaiou alguns aplausos aqui, mas nada convincente). Nem o filme tem grandes momentos que justifiquem a terceira dimensão.O roteiro dá alguma base para a aventura, o que é interessante. Mas Depp e Helena podem justificar o filme, que realmente não é um dos grandes de Burton.



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