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segunda-feira, 22 de março de 2010

A cidade ficou de fora

A cidade ficou de fora

Estado de Minas - Marcello Castilho Avellar



Nenhum justificativa, seja inspirada em racionalidade econômica ou política, seja fundada em motivos culturais, será capaz de legitimar o cancelamento do FIT 2010 ou seu adiamento para 2011. O mais importante evento do calendário cênico de Minas Gerais é pedra fundamental nos processos de formação de nosso público, artistas e ideias. Atraso de um ano em sua realização representa, então, adiamento de um ano no nascimento de novas formas, novos espectadores, novos pensamentos. É Belo Horizonte ficando para trás no que se refere ao teatro e a províncias fronteiriças a ele.



Mais surpreendente é a maneira como a notícia foi dada, de supetão, sem qualquer debate prévio fora das esferas administrativas. Em qualquer lugar civilizado, o cancelamento de um evento deste porte só seria possível depois de longo debate com todos os interessados – classe artística e comunidade. E ocorreria pela necessidade de transformações radicais nos próprios eventos, demandadas pelos interessados, e não pelos administradores dos próprios ou as autoridades do poder público que os mantêm. Na maneira como foi apresentado, o cancelamento do FIT traz de volta o desconforto do autoritarismo, da decisão de gabinete, da administração regida pela burocracia, na contramão de uma política mais participativa que vinha marcando a vida cultural de Belo Horizonte.



A Prefeitura e a Fundação Municipal de Cultura tiveram mais de um ano para adequar a versão 2010 do FIT a suas políticas culturais. Não tiveram empenho para fazer isso. Em outras cidades – novamente, a referência são comunidades menos provincianas do mundo –, um anúncio como o de ontem levaria, no mínimo, ao pedido de demissão de toda a cúpula da política cultural local. Aqui, poderia levar pelo menos a um debate útil: de quem são os festivais. O poder público costuma tratá-los como se fossem seus, mesmo quando está disposto a gastar o mínimo possível com eles. Não são. Os festivais pertencem à comunidade, que os sustenta não apenas com os impostos que os patrocinam, mas também com a participação em massa, aos milhares.



O pior é que a medida vem na esteira de outras, igualmente danosas à democratização da cultura, como a proibição de eventos na Praça da Estação. É a comunidade que foi traída pela decisão de cancelar o FIT. E é em nome dela que deveria se pensar em nova estrutura administrativa para o evento, estrutura independente, capaz de realizá-lo mesmo contra a vontade do poder público, quando este renega seu compromisso com a cultura.




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