Minha lista de blogs

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

VALE UMA BOA REFLEXÃO.

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.
Soube dia desses que as
crianças, nas creches e escolas, não cantam mais “O cravo brigou com a rosa”.

A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a
briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a
violência entre os casais.

Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o
cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da
Penha.

Será que esses doidos sabem que “O cravo brigou com a rosa” faz parte
de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas
recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos!!!!!!

Outra música infantil que mudou de letra foi “Samba Lelê”.

Na versão da minha infância o negócio era o seguinte:
Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/
É de umas boas palmadas.

A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê.

A tia do maternal agora ensina assim: “Samba Lelê tá doente/ Com uma
febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.”

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar
nunca.

Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo.

Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: “Samba Lelê, de Heitor
Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz”.

Comunico também que não se pode mais “atirar o pau no gato”, já que a
música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos.

Quem “entra na roda dança”, nos dias atuais, não pode mais ter “sete
namorados para se casar com um”. Sete namorados é coisa de menina
fácil.

Ninguém mais é “pobre ou rico de marré-de-si”, para não despertar na
garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e
não procurei a referência no meu babalorixá virtual, “Pai Google da
Aruanda”]

foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de
viado.

Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de
viado.

Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse,
em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando
na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias
ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém
mais pode usar a expressão coisa de viado ?
Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma
tremenda babaquice.

O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade,
da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem
duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou
leão de chácara de baile infantil – de “deficiente vertical” .

O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) -
só pode ser chamado de
“afrodescendente”.

O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um “cidadão
caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente”.

A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto
batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do
mapa do inferno - é apenas a “dona de um padrão divergente dos
preceitos estéticos da contemporaneidade”.

O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio,
Orca, baleia assassina e bujão - é o “cidadão que está fora do peso
ideal”.

O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa
e Olívia Palito.

O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o
Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor
Antônio Francisco Lisboa tinha “necessidades especiais”...
Não dá.

O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição
fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e
2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol.

Ao invés de mandar o juiz pra............ e o centroavante pereba
tomar ..............., cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona
Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos
homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais.

O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova,
aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro
funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para
sorrir na beira da sepultura.

A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde.
Defuntos? Não. Seremos os “inquilinos do condomínio Cidade do pé
junto”eugenio sto.




--
"Um homem precisa viajar por sua conta, não por meio de histórias,
imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés,
para entender o que é seu, para um dia plantar as suas árvores e
dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor e o oposto.
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um
homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa
arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não
simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do
que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.
Amyr klink

Nenhum comentário: