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quinta-feira, 10 de março de 2011

Por toda a minha vida

RIO — Nome conhecido do teatro, Wilson Rabelo, de 53 anos,
emagreceu seis quilos e chegou a ficar quatro horas sentado na cadeira
da caracterização da Globo para ganhar uma maquiagem pesada, antes
de interpretar seu primeiro protagonista na TV. Mineiro de Belo
Horizonte, mas criado em São Paulo, o ator vai viver o carioca
Cartola, dos 32 aos 72 anos, na edição do “Por toda minha vida”
dedicada ao sambista e compositor. O programa será exibido nesta
sexta-feira, após o “Globo repórter”.

    — A imagem do compositor elegante, de chapéu, e com um cigarro em
uma das mãos não traduz completamente o Cartola. Ele não é a
caricatura do sambista alegre. Com seu sonho e poesia ele superou a
amargura da vida — aponta Rabelo.

    Antes de entrar em estúdio para viver o músico, o ator mergulhou
numa extensa pesquisa fornecida pela Globo:  A imagem do compositor
elegante, de chapéu, e com um cigarro em uma das mãos não traduz
completamente o Cartola. Ele não é a caricatura do sambista alegre

    — O fato de o personagem também possuir um aspecto dramático me
permitiu uma interpretação mais densa. O próprio formato do
programa, que mistura documentário e ficção, nos deixa mais à
vontade para seguir essa linha.

    Rabelo dividiu o papel com o ator Alex Brasil, escalado para viver a
fase jovem do sambista. Parceira e mulher do compositor — com quem
casou no início dos anos 60 e manteve o restaurante Zicartola, num
casarão na Rua da Carioca, no Centro do Rio —, Dona Zica é
interpretada por Marizilda Rosa. A escolha do elenco seguiu o
critério já adotado pelo diretor-geral da atração, Ricardo
Waddington, de chamar atores pouco conhecidos da televisão.

    — Esse conceito confere mais credibilidade ao programa. Mas os
atores precisam apresentar alguma semelhança física com os
homenageados para facilitar a caracterização. Pesquisamos nomes do
teatro e do cinema, e o trabalho de escalação é exaustivo —
explica Waddington, um dos idealizadores do projeto, no ar desde 2006.


    Na edição sobre Cartola, o público conhecerá a trajetória de um
dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, em 1929. Nascido
Angenor de Oliveira no bairro do Catete, Cartola só experimentou o
reconhecimento como músico depois de completar cinco décadas de
vida. Ex-pedreiro, tipógrafo, contínuo e lavador de carros, o
compositor, morto por um câncer aos 72 anos, em 1980, vivenciou mais
baixos que altos. Mas nunca perdeu o jeito otimista de enfrentar suas
maiores dificuldades.

    — Não boto a vida pessoal à frente da obra. A trajetória do
artista serve como combustível para justificarmos o trabalho dele.
Não quero e nem posso me aprofundar muito no aspecto privado dos
escolhidos. Para isso, precisaríamos ter mais de duas horas de
duração — conta o diretor.

    Apresentado por Fernanda Lima, o “Por toda minha vida” mescla
dramatizações com imagens reais do homenageado e depoimentos de
personalidades. O especial de Cartola traz o historiador Sergio
Cabral, a cantora Beth Carvalho e o filho de Zica, adotado pelo
compositor.

    — Começamos o programa com uma pesquisa sobre o artista. O
segundo passo, que é sempre delicado, é procurar a família. Isso é
o que determina as possibilidades de fazermos ou não o especial —
relata Waddington, garantindo não sofrer censura por parte dos
parentes dos biografados: — A gente coloca de cara que não pode
haver nenhum tipo de restrição. No começo, era mais difícil
convencer os herdeiros. Agora que o programa é conhecido, ficou mais
fácil. A família precisa confiar na gente. Muitas vezes, promovemos
as pazes entre as pessoas que estavam brigadas.

    O “Por toda a minha vida”, que já teve edições indicadas ao
Emmy Internacional, considerado o Oscar da televisão, ainda esbarra
em questões de ordem prática durante a sua realização.

    — A maior dificuldade para a nossa produção é a falta de
memória, de material sobre os artistas. Quando encontramos
documentos, estão deteriorados. Na maioria das vezes, o arquivo usado
é pessoal — conta Waddington, frisando que também recorre ao
arquivo da Globo, com entrevistas e apresentações dos músicos.

    Cada edição do “Por toda minha vida” demora aproximadamente
três meses para ficar pronta. De acordo com o diretor-geral, o
programa segue um roteiro, mas a fase de pós--produção é que
determina mesmo a cara de cada atração:

    — Esse é um programa muito criado na ilha de edição. Por isso o
nosso tempo para editar é bem longo e artesanal.

    Com roteiro assinado por George Moura e direção de Luiz Henrique
Rios, o “Por toda a minha vida” também vai mostrar a trajetória
do grupo Frenéticas, cuja edição está prevista para ir ao ar no
dia 1 de abril.
  

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