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domingo, 22 de novembro de 2009

ALDEIA DE ARCOZELO PEDE SOCORRO ...

*A ALDEIA*




Era um garoto ainda na inicio da Universidade, mas já exercia alguns poucos

anos de teatro, realizados no antigo Teatro Experimental do Maranhão (TEMA).

Naquele ano de 1971 rompíamos com o antigo berço teatral e montamos o Zoo

History do Edward Albee, a minha primeira direção. Com ele chegamos à Aldeia

de Arcozelo em Paty do Alferes aqui mesmo no Rio de Janeiro, e vivenciamos

uma das grandes experiências das nossas vidas: O *I Festival Brasileiro de

Teatro Estudantil. *O ano de 1971 era um dos de chumbo, ninguém no Brasil

teria a ousadia de, no Governo Médici, juntar mais de quinhentos estudantes

universitários para fazer e discutir qualquer coisa, principalmente teatro.

Somente o *Embaixador Paschoal Carlos Magno*. Antes de conhecê-lo, pelo

nome, imaginava-o como um general, não aqueles que nos comandavam, mas os

das antigas cruzadas. E era o que ele era: um líder dos templos cênicos. E o

seu único dever com a Ditadura, era não deixar ninguém da comunidade entrar

no espaço. Nós mesmos fomos o nosso público.



Paty do Alferes, distrito de Miguel Pereira era um vilarejo serrano como

tantos outros por aí. A Aldeia era um sonho concretizado em uma antiga

fazenda de café: no casarão, as suítes; na senzala: o albergue, o

refeitório, o seu teatro de bolso; ao largo, o magnífico anfiteatro grego,

circundado pelas ramas de cabelos-de-velha; mais adiante a ponte e o riacho

que corria atrás. O mês era o de janeiro, como tinha sido o do seu

nascimento e não acreditávamos como alguém poderia ter tido o ímpeto de

fazer aquilo. Para mim, ou era um louco ou um santo.



Os meninos do Brasil todo, começavam a chegar, e nós os do Maranhão. Para

ter uma idéia, a grandiosidade do evento era tanta que a premiação se dava

com os dez melhores de cada área que abrange o teatro. E rolaram nos dez

dias, cinco espetáculos por dia e em qualquer lugar da Aldeia, pois qualquer

um deles pôde se tornar eficiente para a glória das artes cênicas. Tudo

muito inesquecível. Se eu fosse falar tudo que rolou por lá tomaria muito o

tempo de vocês. Mas introduzi um pouco da história para dizer que tudo isso

ao me marcar muito me deixou um compromisso fincado à beira daquele riacho

com o grande Mestre ao centro, nos comprometendo a zelar por aquele espaço e

nos abraçarmos eternamente pela causa cultural.



Posteriormente, entre as ameaças do Paschoal de tocar fogo na Aldeia pelo

descaso diante das querelas jurídicas com a Aldeia e seu posterior

falecimento, voltou-me o compromisso que em 1990 se concretizou, já na

Diretoria da Fetaerj, ao levar o nosso festival para lá. Na presidência da

entidade, instituí o Prêmio Paschoalino, fizemos a premiação nos moldes como

o Paschoal pensava e resgatamos o que ele já delegava na época: fazer da

vida uma luta constante para construir teatros onde estivéssemos.



Hoje, completando 100 anos do seu nascimento, cada vez que me deparo com os

descasos culturais que me deixam pra baixo, busco na luta do Pascoal, a

coragem necessária para levantar buscando aquele abraço companheiro que me

faz regar a claudicante energia. Foi esse afã que me fez lutar contra tudo e

contra todos para termos teatros em todos os lugares do Estado Rio de

Janeiro e é ele também que não me deixa calar. Com tais compromissos

firmados só não me dou por realizado, pela eternamente inconformada alma

inquieta do humanismo cênico, sempre ansiosa por mais desafios para poder

sobreviver. E a Aldeia de Arcozêlo é o nosso templo maior. SALVEM-NA POR

DIONISIO E POR TODOS OS ÍCONES CÊNICOS DA HISTÓRIA.

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