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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A arte do encontro

A arte do encontro


O Povo - Elisa Parente



Na programação de Fortaleza, foi bastante comentada a montagem caboverdiana Ruínas - Raiz di Polon (Divulgação)

Não é de hoje que a Bienal de Dança do Ceará traça suas relações com a arte do movimento feita em outros países. Extensa é a lista de coreógrafos e bailarinos de diversas partes que já conheceram e experimentaram as produções feitas por aqui. Mas agora é a vez de os cearenses viverem essa troca em outros territórios. Em doze anos de atividades, a mostra dá mais um grande passo. Em sua primeira edição realizada fora dos limites geográficos cearenses, o evento leva nada menos do que 122 pessoas à Cabo Verde, na África, para uma série de apresentações, programas de formação e intercâmbio cultural. De hoje até o próximo sábado, 23, uma extensão de sua sétima edição, denominada Conexão Cabo Verde, acontece na capital do país africano, celebrando o encontro de diversas gerações e gêneros artísticos, como a dança, a música e as manifestações tradicionais populares.

Estreitando e fortalecendo os laços com países do hemisfério sul, a Bienal de Dança do Ceará amplia seus horizontes numa experiência que marcará a vida de artistas cearenses e caboverdianos. ``O que é importante é valorizar esse encontro. A Bienal não está indo para dizer que dança eles devem dançar, que modelo estético devem seguir, e, sim, potencializar o encontro de artistas africanos e brasileiros para futuras colaborações``, destaca David Linhares, diretor geral da Bienal. São 92 artistas do Ceará, Minas Gerais e São Paulo, entre bailarinos, coreógrafos, professores e palestrantes. Os espetáculos que serão encenados somam 31, dentre estes 14 cearenses.

O bailarino e coreógrafo cearense Fauller leva para Cabo Verde o espetáculo mais emblemático de sua carreira. De-vir, que estreou em 2002, consagrou Fauller e sua Cia. Dita em apresentações pelo Brasil e pelo exterior. ``Lutei muito para levar o De-vir e não outros trabalhos. Estou num momento de total curiosidade, não faço ideia do que vamos encontrar. O David (Linhares) me deu algumas pistas e falou desse alvoroço de apresentar o De-vir, porque eles nunca tiveram uma experiência de trabalho com nudez. Quero chegar e ver as pessoas para pensar em quais relações vou estabelecer, que contatos e possibilidades de troca podemos pensar nessa semana``. Para Fauller, a viagem será uma grande mistura de experiências, antes de qualquer tentativa de inserção de uma estética de dança. ``A possibilidade de troca é muito maior do que qualquer possibilidade de imposição. Acredito nisso, nessas possíveis trocas, porque eles também já estão trabalhando, já existe dança contemporânea lá``, reflete o coreógrafo.

Para o músico Orlângelo Leal, vocalista da banda Dona Zefinha, com a facilidade do idioma em comum, a interação será bem mais fácil. ``Por conta das nossas viagens a outros países, a banda tem uma perfomance que pode ser entendida em qualquer língua. Como estamos falando de Cabo Verde, poderemos investir na poesia, nos contos. Acredito que vai ser super bacana``. A banda, que está viajando com seus oito integrantes, levará os espetáculos Zefinha Vai à Feira (do disco lançado em 2007) e Cantos e Causos, em homenagem a cantores brasileiros. ``O repertório é composto também por poemas, é um show que celebra a diversidade rítmica da música brasileira``, adianta.

Atuando em Itapipoca e no Vale do Curu, o bailarino e diretor da Cia. Balé Baião, Gerson Moreno, vê na experiência um divisor de águas na história de sua companhia. ``Nosso grupo, apesar de ter 15 anos de história, nunca saiu do Estado. Nossa primeira viagem já está sendo para outro país. Isso é resultado de muito trabalho e a gente pretende desenvolver um intercâmbio com outras companhias, não só de Cabo Verde, mas também brasileiras que estão indo. Com certeza essa viagem vai nos abrir portas. A gente acredita que daqui pra frente teremos um respaldo maior pra dar continuidade no circuito``. A companhia, que viaja com seus sete integrantes, apresentará Sólidos, montagem que vem sendo trabalhada há dois anos.

O mar que toca a costa brasileira nunca será o mesmo que toca a costa africana. Se antes, afastados por uma extensa linha de oceano, artistas caboverdianos e cearenses sempre tiveram uma ligação, ainda que ancestral, mais uma vez a experiência vai acontecer e gerar frutos. A realização de uma Bienal de Dança cearense em Cabo Verde pode vir a se tornar um evento fixo no calendário local e ser o grande passo para que os continentes fiquem cada vez mais próximos.



Serviço



Conexãoi Cabo Verde - VII Bienal Internacional de Dança do Ceará.

De 19 a 23 de janeiro de 2010 - Praia/Cabo Verde. Informações: bienaldedanca.com/2009 e conexaocaboverde@gmail.com. Toda a programação é gratuita.









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