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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Folias de Reis do estado do Rio ganham livro



À meia-noite do dia 24 de dezembro, um grupo vestindo roupas coloridas e enfeitadas inicia o seu “giro”, a jornada pela casa dos fiéis. Ao som de músicas e cânticos que evocam passagens bíblicas e histórias de santos, têm início as Folias de Reis. Importante manifestação do folclore popular, as folias do estado do Rio foram catalogadas e tiveram a sua história contada no livro “Folias de Reis Fluminenses – Peregrinos do Sagrado”, publicado pela divisão de Folclore do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).


"O principal objetivo da divisão de folclore é de registro, pesquisa e divulgação do patrimônio imaterial fluminense. Assim, o livro segue nesta direção, de integração com a educação também. Além de contar com um registro fotográfico do encontro de Folias que promovemos em 2008", explica Delzimar Coutinho, responsável pela área de Folclore do Inepac.

As Folias de Reis, que são um tipo de Reisado, foram trazidas para o Brasil pelos jesuítas, daí o seu forte caráter religioso, de homenagem aos três reis magos. Elas costumam agregar membros de uma mesma família que desejam agradecer por graças recebidas. A duração da promessa é de sete anos, podendo ser renovada pelo mesmo período. Os “giros” costumam terminar no dia 6 de janeiro, Dia de Reis. No entanto, no Rio de Janeiro, a tradição apresenta uma particularidade: a jornada só termina no dia 20, quando se comemora o Dia de São Sebastião, padroeiro da capital e de várias cidades no interior.


O vice-presidente da Comissão Nacional de Folclore, Affonso Furtado, conta que as Folias de Reis fluminenses apresentam grandes diferenças com as portuguesas, pois estas não teriam um ritual definido:

"Aqui, antes de entrar na casa, há a cantoria de porta, pedindo permissão para entrar. Assim que entra, louva-se o presépio. Em seguida, pede-se uma oferenda e agradece aquilo que é dado. Depois há o canto da despedida e, no lado de fora da casa, os Palhaços de Reis dançam e declamam versos. Em Portugal, não há todo este ritual. Lá também os palhaços não são comuns, existem apenas na região de Trás-os-Montes, no norte do país. E o uso da bandeira é pouco difundido, ao contrário daqui."


As Folias possuem uma estrutura hierárquica bem demarcada: o mestre, que é a maior autoridade do grupo; o contra-mestre, responsável pela arrecadação de doações; o bandeireiro, encarregado de levar a bandeira; cantores e instrumentistas, incluindo violão, cavaquinho, sanfona e percussão; e os Palhaços de Reis, que usam máscaras aterrorizantes por se afirmarem representantes dos perseguidores de Cristo.


O encerramento do ciclo anual de apresentações de uma Folia de Reis é chamada de Festa de Remate ou Arremate. A comemoração é feita na casa do mestre e são recebidas diversas folias em uma festa de muita comida e bebida. Neste encontro, há também uma animada competição entre os palhaços dos diversos grupos, tanto na dança quanto no verso, muitos deles inspirados em folhetos de cordel.


Segundo Furtado, a influência do cordel ocorreu quando houve a crise do café, na década de 1930, e muitos trabalhadores rurais do Vale do Paraíba, da Zona da Mata mineira e do sul do Espírito Santo migraram para o Grande Rio. Com o contato com a cultura nordestina, os Palhaços de Reis incorporaram outras manifestações, e, ao invés de só dançarem, passaram também a recitar versos durante as chulas, como são chamadas as suas apresentações.


Colaboração de Leonardo Cazes

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