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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

La escena iberoamericana

Naum Alves de Souza está se duplicando. De tarde mergulha na Inglaterra contemporânea e dirige Nathalia Timberg e Rosamaria Murtinho em Sopros de vida, peça de David Hare centrada no embate feroz entre duas mulheres que foram casadas com o mesmo homem e abandonadas por ele, com estreia marcada para 14 de janeiro no Teatro 1 do CCBB; à noite, viaja para a Áustria do século 18 ao conduzir Amadeus, texto de Peter Shaffer centrado no conflito entre os compositores Mozart e Salieri. Protagonizado por José de Abreu, o espetáculo será apresentado em Niterói, em pré-estreia, a partir de 29 de janeiro e desembarcará no no teatro Oi Casa Grande, em 23 de março.
– Sopros de vida é uma peça intimista, bem naturalista, um veículo perfeito para duas atrizes – observa Naum, referindo-se a Nathalia e Rosamaria, atrizes que voltam a contracenar depois de dividirem a cena em Letti e Lotte (2001), outro texto de Peter Shaffer. – Acho, inclusive, que David Hare escreveu para Maggie Smith e Judi Dench.
Em Amadeus, a proposta é outra.
– Shaffer mostra como a inveja é um sentimento permanente no homem. Ele parece ter pensado diretamente na cena. Dá para perceber na dramaturgia uma vocação para o grande espetáculo – diz Naum.
Em cada uma das montagens, Naum afirma a sua personalidade de diretor.
– Sou antiquado. Fico muito tempo envolvido com trabalho de mesa. É o estágio em que eu e os atores digerimos e nos apossamos do texto – conta.
Naum se refere especialmente à conexão com o intérprete. Afinal, ao longo do tempo, vem assinando vários monólogos, a exemplo de Mediano (2009), peça de Otávio Martins, em cartaz no Teatro Poeira, com Marco Antônio Pâmio, ator que já havia dirigido na encenação de Longa jornada de um dia noite adentro (2002), de Eugene O'Neill.
– Pâmio se desdobra em cerca de 20 personagens. É um espetáculo que aposta na imaginação da plateia – ressalta Naum, em relação à elogiada montagem.
O diretor gosta de apostar em parcerias duradouras. Firmou uma importante com Marieta Severo, intérprete precisa de suas peças memorialistas e na interessantíssima versão de Cenas de outono (1987), de Yukio Mishima (1925-1970). O contato com Pedro Paulo Rangel, que também data da passagem da década de 70 para a de 80, foi perpetuado em Soppa de letra (2005).
– Naum é detalhista, cuidadoso com o ator. Sabe esmiuçar as emoções. Ele me dirigiu em Aurora da minha vida (1981) e Um beijo, um abraço, um aperto de mão (1984). Quando consegui patrocínio para montar Soppa de letra, não hesitei em convidá-lo – sublinha Rangel.
Naum conduziu ainda Fernanda Montenegro em encenações bem distintas, como Dona Doida – Um interlúdio (1987), excelente incursão na obra de Adelia Prado, e na burleta Suburbano coração (1989), de Chico Buarque.
– É difícil dirigir monólogos porque abordo o texto no mais absoluto escuro. Mas tenho contado com a chance de trabalhar com atores que já conheço, todos muito empenhados no fazer teatral – diz.
Surpreendentemente, Naum Alves de Souza é um encenador que transita com desenvoltura entre o minimalismo e a grandiosidade: já dirigiu óperas como Carmen, de Bizet, e Madame Butterfly, de Puccini.
– Como não sou músico achava que nunca conseguiria dirigir óperas. Na verdade, nem sou o espectador ideal para assisti-las. No entanto, participar da criação me dá um enorme prazer. E há determinadas leis que não podem ser desobedecidas, como organizar as marcações de modo a que cantores e orquestra não se percam – afirma.
Mesmo quando dirige shows, Naum evita o exibicionismo.

– Em Francisco (1987), só procurei fazer com que Chico Buarque se sentisse à vontade. Não cabia qualquer enfeite – atesta.

A versatilidade está na própria formação de Naum, ligada às artes plásticas e ao teatro. O seu vínculo com estas manifestações influenciaram na fundação, em 1976, do Pod Minoga Studio, um centro voltado pesquisa de linguagem, com alunos como Carlos Moreno e Mira Haar. Um pouco antes dessa época começou a amizade com a atriz e artista plástica Analu Prestes.

– Naum foi meu professor dos 15 aos 19 anos. Apresentei seus textos a Marieta, que já conhecia de Os saltimbancos (1977). Ele é delicado, alegre – elogia Analu, que participou da segunda versão de No Natal a gente vem te buscar (2008).

O diretor acumulou experiência como cenógrafo e figurinista em peças como El grande de Coca-Cola (1974) e Macunaíma (1978), versão de Antunes Filho para a obra de Mário de Andrade.

– Trabalhamos durante um ano com Antunes, ele construindo a dramaturgia e eu em contato com os atores – evoca.

Como se vê, a carreira de Naum rende assunto. Não por acaso, o crítico de teatro e ator Alberto Guzik escreveu uma biografia, Naum Alves de Souza, imagem, cena, palavra, pela Coleção Aplauso (Imprensa Oficial). Suas obras completas foram reunidas e publicadas em Portugal e no Brasil, incluindo inéditos.

– Gosto especialmente de Aquele ano das marmitas. É quase uma retomada da trilogia memorialista – revela Naum.

• Daniel Schenker
Jornal do Brasil
2009-12-13

Ruy Jobim Neto

Cia. Mestremundo de Histórias

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