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quarta-feira, 31 de março de 2010

Ações de incentivo à leitura

Ações de incentivo à leitura

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Diversas questões contribuem para o fato da leitura não ser um hábito no Brasil. De acordo com alguns pensadores brasileiros, o País passou da oralidade direto para o audiovisual, pulando a etapa escrita. A organização econômica também não teria contribuído: por ser um país de base escravocrata, negligenciou-se a educação, tratada como direito universal apenas na década de 30, do século 20. Como conseqüência, parte da população brasileira é analfabeta. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2008), desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, 45% da população brasileira não tem o costume de ler, o que coloca o País na 47ª posição do ranking mundial de leitura, formado por 52 países, de acordo com estudo da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Enquanto o índice de leitura do brasileiro beira quatro títulos por ano, em países desenvolvidos essa média sobe para 10. Dispostas a reverter esse patamar, uma série de organizações nacionais desenvolvem projetos com o

intuito de disseminar a prática da leitura no País, seja a partir de projetos próprios ou com base em experiências de outros países.

Em 2001, o programador americano Ron Hornbaker resolveu organizar o movimento Bookcrossing, no qual os livros são “libertados” em espaços públicos à espera de alguém que se interesse em levá-los para ler. A ação já acontecia há tempos entre os amantes da leitura, mas Hornbaker criou um site para o cadastro dos livros encontrados e “libertos”, com códigos para impressão em etiquetas, que coladas aos livros permitiriam rastreá-los onde quer que fossem parar. Usuários do mundo inteiro aderiram ao movimento e, em 2009, o site ganhou uma versão brasileira, o http://www.bookcrossing.com.br/.

Desde que o site surgiu, foram registrados no mundo todo mais de 6,2 milhões de livros, e duas vezes por ano ocorrem encontros internacionais, geralmente na Europa e nos EUA, nos quais diversos bookcrossers – nome dado aos adeptos do movimento – trocam exemplares. “Uma forma segura de libertar um livro para não correr o risco de perdê-lo é deixá-lo numa ‘zona de bookcrossing’, uma mesa ou prateleira instalada em algum local público. Existem milhares dessas no mundo todo e seus endereços podem ser encontrados no site”, diz a coordenadora do Bookcrossing Brasil, Helena Castello Branco. Para ela, o Bookcrossing permite que mais pessoas leiam o mesmo livro, disseminando o hábito da leitura. “No Brasil, a falta de incentivo à leitura tem início na infância. Pais, escola e sociedade se omitem do papel de estimuladores. O ideal seria que, desde a alfabetização, a criança fosse acompanhada por um adulto que a incentivasse. Mas o fato da leitura ser associada à obrigação nas escolas, acaba resultando no contrário: ela passa a detestar ler. Livro é algo muito pessoal e cada um deveria escolher o que quer ler”, afirma.

Branco acredita que a inauguração de novas bibliotecas, com propostas de modernização, podem favorecer o incentivo à leitura. Ela cita a recém-inaugurada Biblioteca de São Paulo, no Carandiru, que abandonou o visual sisudo, promovendo palestras e eventos em suas salas, além de oferecer grande acervo audiovisual. “Sebos também são uma alternativa para quem procura livros mais baratos. Outra medida eficaz de estímulo à leitura seria o governo diminuir os impostos para que os livros fossem vendidos a preços mais baixos”.

Em Portugal, o evento já conquistou muitos fãs: com quase 12 mil associados, figura em sétimo lugar na Europa e décimo no mundo. Mas os portugueses seguem uma outra modalidade de Bookcrossing. ” A maior parte prefere usar o sistema de bookring, em que os livros são passados de mão em mão ou enviados pelo correio, retornando ao dono no final do percurso”, revela Teresa Laranjeiro, bibliotecária portuguesa responsável pelo site Bookcrossing Portugal. Associada desde 2004, Teresa diz que “o Bookcrossing em Portugal saltou do monitor para a vida real”, com 1ª Convenção Nacional, em 2009. A a 2ªedição está marcada para o próximo dia 8 de maio em Albergaria-a-Velha.


No Rio de Janeiro, um projeto chamado Livros de Rua tem o intuito de promover e democratizar o acesso à leitura. Idealizada pelo Instituto Ciclos Brasil, a ação foi inspirada no movimento Bookcrossing. Mas, de acordo com o presidente do Instituto, Pedro Gerolimich de Abreu, o projeto ultrapassou as fronteiras do movimento internacional. “Fomos além. No Bookcrossing, os livros libertos ficavam restritos a bairros de alto poder aquisitivo. Decidimos, então, levá-los a áreas de baixa renda, para atender, justamente, aqueles que não têm condição de adquirir um livro. Na verdade, não existem regras, mas priorizamos locais que apresentem uma defasagem de leitura”. Qualquer pessoa pode fazer parte do projeto, se registrando no site , cadastrando o livro que quer “libertar” ou avisando quando encontrar um exemplar.



A atividade teve início em 2009 e, desde então, 5 mil livros já foram cadastrados no site. “Trabalhamos com o conceito de liberdade. O livro deve ser lido e liberto em seguida, não pode ficar trancado no armário. A corrente deve continuar”, completa Abreu. Para ele, o objetivo do projeto não é apenas democratizar a leitura, mas estimular o debate. “No Brasil, de 10 brasileiros, 7 nunca pisaram em uma biblioteca. Boa parcela da população sequer tem acesso a bens culturais e, entre comer e comprar um livro, a opção é óbvia. E essa reação, na verdade, é dialética, pois se a pessoa não lê, também será difícil superar a condição de pobreza”, afirma.



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