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quarta-feira, 31 de março de 2010

AS MENINAS



Famosa por seus trabalhos como atriz na televisão, Maitê Proença, tem firmado seu lado intelectual como escritora, seja através de livros, ou de peças teatrais como o atual cartaz: “As Meninas”, sua segunda incursão na dramaturgia, mais uma vez acompanhada pelo fiel parceiro , o comediógrafo Luiz Carlos Góes. A partir de uma conhecida tragédia pessoal da vida da autora, a peça se passa no velório de uma mulher que foi assassinada por seu marido. No centro da história, duas garotas: a filha, que viu a mãe ser morta pelo pai, e sua curiosa e participativa amiga, um tanto sem noção da gravidade do acontecimento. As meninas, ao lado da avó turrona e de outras integrantes do núcleo feminino da família, tentam compreender a desgraça que se abateu sobre elas enquanto rememoram histórias do passado deste matriarcado. O irreverente texto tem como maior encanto mostrar como as crianças encaram a morte, a visão pueril e, ao mesmo tempo, assertiva, numa espécie de crítica aos comportamentos adultos, que fazem assim um acerto de contas com a própria lembrança. Mérito também é a sensibilidade com que os atores trabalham a comédia num tema tão solene e triste, fugindo de qualquer morbidez, e apostando que é possível, sim, fazer graça mesmo com a morte das mais violentas, revezando risos com lágrimas, afinal, além de engraçada, a peça é comovente e possui grande beleza em seus diálogos. Amir Haddad, diretor da montagem, caminha em duas linhas paralelas que se cruzam em derminado ponto: uma é a excepcional condução de suas atrizes e a fruição da cena, outra é a quebra com o uso de canções populares interpretadas pelo elenco. Este recurso, apesar de aumentar desnecessariamente o espetáculo, funciona como um respiro à uma possivel clausrofobia temática. No que diz respeito ao elenco o destaque é Patrícia Pinho, que cria a prima amiga com certo distanciamento e autoironia, em uma interpretação deliciosa de ver e que rouba a cena. Já Sara Antunes – cujo talento já mostrou em montagens do grupo XIX de teatro – não se sai tão bem, por se levar a sério demais e pesar o drama da orfã. Vanessa Gerbelli faz a falecida de forma delicada e comedida, enquanto Analu Prestes é um pouco prejudica pela forte caracterização da avó. Completa o time Clarice Derziê Luz, que exibe grande versatilidade dando vida a diversas personagens, sempre com humor. Com um texto muito bom e ótimas interpretações, “As Meninas” é uma feliz surpresa que faz o público rir e se emocionar, refletindo sobre nossa forma de encarar a tragédia em nossas vidas.



Serviço: Teatro Cultura Artística Itaim
Sexta 21h30, sábado 21 e domingo 18h

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