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quarta-feira, 31 de março de 2010

“RockAntygona”.


Por Luciana Garcia






O clássico grego Antígona, de Sófocles, montado e reinventado há seculos em inúmeros países, ganha, agora, mais uma interessante leitura, com “RockAntygona”. O texto original conta a mítica história da personagem título, que regressa à cidade de Tebas, após a morte do pai, Édipo - o que cegou-se ao descobrir que sua mulher, e genitora de seus filhos, Jocasta, era na verdade sua mãe -, que fora Rei e destronado por seus dois filhos homens, Etéocles e Polinices. Numa luta pelo reino os dois se matam, e é Creonte, irmão de Jocasta, que, como sucessor legal, recebe a coroa, e ordena que Etéocles seja enterrado com todas as honrarias, enquanto Polinices é deixado em terra nua, sem direito, sequer, a um sepultamento. A brava Antígona, então noiva de Hémon (filho do atual rei), se rebela às custas da própria vida para defender um enterro digno para seu irmão. A atual versão rock desta saga, é, na verdade, mais techno e atual do que o nome pode sugerir, e executada com precisão e ousadia. A dramaturgia, assinada por Caio de Andrade, suprime alguns elementos da história (como a irmã da protagonista, Ismênia, e Eurídice, mulher de Creonte), mas que não atrapalham sobremaneira a compreensão do enredo. Interessante perceber que Guilherme Leme, como diretor, consegue trazer concepções extremamente audaciosas e assertivas para o palco, de forma seca e direta. Os elementos contemporâneos, que compõem a narrativa, poderiam parecer inapropriados, se pensados isoladamente, porém, há uma subjetividade em cada tela que se forma à frente do espectador, que faz parecer o texto completamente moderno e apropriado. Marcello H., responsável pela chamada mídia eletrônica (produzindo os efeitos de som e passagem de tempo), faz o papel de Corifeu - o líder do tradicional coro das peças gregas. Creonte (Luís Melo), Antígona (Larissa Bracher), e Hémon (Armando Babaioff), parecem participantes de um reality show arcaico, criaturas que colocam as emoções em evidência, para fazer valer seu jogo de crenças morais. Abolindo um fazer teatral preocupado com a tradição grega, os personagens são colocados à mostra, sob lentes de aumento, com suas intenções, vivas, e seus defeitos e virtudes, expostos, como carne em açougue. Eles se dispõem, nessa encenação narrada, como peças fundamentais de um dinâmico quebra-cabeça, que fica suspenso no ar, mesmo para aqueles que já conhecem a trama. Extremamente bem sintonizado, o elenco de “RockAntygona” consegue levantar aplausos do público, e fazer valer o maravilhoso trabalho de cenografia e iluminação.



Serviço: Espaço SESC (RJ)
Quinta 20h, sexta e sábado 21h30 e domingo 20h

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