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segunda-feira, 22 de março de 2010

MUSICA PARA NINAR DINOSSAUROS

Aguardado retorno do autor, diretor e ator Mário Bortolotto, “Música Para Ninar Dinossauros” fez suas primeiras apresentações na Mostra Oficial do Festival de Curitiba. A peça apresenta um trio de amigos, já passando dos quarenta anos, que recorrem a prostitutas para lhes fazer companhia em noites que parecem não ter fim. O texto mostra, em paralelo, a vida destes homens algum tempo atrás quando, jovens, já tinham seus destinos desesperançados traçados, e a relação com garotas de programa estabelecida. Os personagens da dramaturgia do autor vivem à margem de uma sociedade cujos códigos e valores rejeitam, são seres excluídos, e excludentes, estrangeiros em um mundo cada vez mais formatado, e no qual eles não se encaixam, não vêem sentido. Vivendo ao som do blues e do rock'n'roll, com cocaína, whisky ou cerveja, eles procuram belas mulheres para chamar de suas, embora aquelas a quem amam (e sim, algumas destas figuras são realmente apaixonadas, e constituídas de um romantismo próprio) os abandonaram. Aqui, este universo torna a aparecer, a grande diferença deste para outros textos do prolífero dramaturgo, é que seus personagens envelheceram. Se antes suas peças eram o olhar de uma juventude vazia ou deslocada, agora ele mostra essas mesmas pessoas dez, quinze anos depois, com suas escolhas consolidadas e suas angústias já assimiladas num peculiar estilo de vida, ou falta dele. Poeta urbano, o autor extrai, do banal, momentos bem humorados, que levam o público às gargalhadas, e outros, de profunda melancolia, trazendo com legitimidade uma certa idealização para a cena, onde sua iconografia, de influências como o movimento beatnik, surge forte e determinante para aquele ambiente. No que diz respeito a direção do dramaturgo, ela é bastante simples esteticamente, sem maiores preocupações formais, ou de acabamento, trabalhando com pouco, ele usa os recursos mais básicos, que sirvam a contar sua história, valorizando o texto e abrindo espaço para as boas atuações sobressaírem. Graças a este conjunto, uma das cenas mais bonitas, e representativas, da peça é quando uma das jovens prostitutas canta uma música, acompanhada por outra ao piano, desconstruindo o esteriótipo esperado. Quanto às interpretações, o principal destaque é o elenco masculino mais velho, encabeçado pelo autor e diretor, que sabe exatamente o quê, e como quer, que seu personagem - o mais interessante dos três – se materialize, de forma genuína. O cartunista Lourenço Mutarelli surpreende com uma interpretação um tanto agitada, a qual o público parece ter grande empatia. Paulo de Tharso, além da bela voz cantando, conduz sua figura na medida certa, sensível, e sem afetações. Já os jovens atores, Francisco Eldo Mendes, Carlos Carah e Marcelo Selingardi demonstram empenho, mas carecem, ainda, de maior amadurecimento de seus personagens, estando presos à forma, e soando um pouco como caricaturas dos atores mais velhos, em especial o primeiro. Com a continuidade dos ensaios é provável que eles fiquem mais confortáveis e independentes em suas criações. Das atrizes, destacam-se, pelas interpretações, Helena Cerello, em especial, e Carolina Manica, enquanto Paula Flaiban tem ótimos momentos cantando. Completam o elenco feminino Daniela Dezan, Wanessa Rudmer e Fernanda Sanches. “Música Para Ninar Dinossauros” - que estreia em breve em São Paulo - é uma típica peça do autor, mas com algo um pouco diferente em sua dramaturgia e que, em breve, pode surpreender.





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