Minha lista de blogs

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Lei do bol$o

Lei do bol$o

Estado de Minas - Walter Sebastião



É promoção, só que de livros, discos, ingressos para cinema, shows e concertos. Como em todas as ofertas, tem tempo limitado, é preciso pesquisa para encontrá-las e a vantagem para o consumidor são preços mais baixos. Os produtores culturais, entretanto, vão além da economia, que, observam os vendedores, muitas vezes é modesta. E valem-se do mecanismo com outros objetivos: formar público, incentivar hábitos de consumo de produtos artísticos, fidelização a eventos e até, em certos casos, incentivo ao boca a boca para criar mídia espontânea. Segundo especialistas, no caso dos produtos da indústria cultural, vive-se, no momento – e até junho – o período de maior oferta de promoções na área cultural.

Grandes redes que vendem livros, discos e DVDs sempre têm bancas de promoção bem à vista do consumidor. São ações de editoras em acordo com as lojas, no geral em torno de produtos lançados em 2009 ou que tiveram venda menor que o esperado. Abril, explica gerente de megastore, que prefere não se identificar, situa-se praticamente na metade do período do ano com mais ofertas. Que se inicia com o fim do período de volta às aulas e vai até próximo aos dias das mães e dos namorados. Tempos que o consumidor está com pouco dinheiro. E o valor dos livros, por exemplo, pode cair até 50%, mas em média tem redução de 15% a 20%.

Gil Aurélio, representante em Minas Gerais da Editora Sextante, conta que promoção pode visar também a alavancar venda de produtos cujo ápice da vendagem já passou, puxando, estima, mais 10% a 15% de vendas. O exemplo é O código da Vinci, best-seller de Dan Brown, um dos títulos do autor em oferta, que foi de R$ 29,90 para R$ 24,90. O gerente da megastore apresenta outro ponto de vista: não são as ofertas que atraem os cliente à loja e elas pouco significam nas vendas (ele estima que menos de 5%). Mas concorda com Gil Aurélio que preço bom influencia na decisão de compra.


Há questões menos explícitas na mudança dos preços. Quem for às livrarias vai observar que os livros de Rubem Fonseca e Patrícia Melo, editados pela Companhia das Letras, ou de Lygia Fagundes Telles, pela Nova Fronteira, estão em promoção. Os autores mudaram recentemente de editoras (Rubem e Patrícia foram para a Agir e Rocco e Lygia para a Companhia das Letras). O que alimenta a suspeita que a antiga casa dos escritores colocou os lotes de obras de seus antigos autores em oferta, para criar problemas para as concorrentes. Trata-se de prática, confirma Gil Aurélio, que de fato ocorre no mercado editorial.


Confira a seguir algumas modalidades de

promoção de produtos na área cultural


Dízimo

Ingressos de teatro mais baratos, como se sabe, só comprados com antecedência no Mercado das Flores. Mas há outros mecanismos curiosos de estabelecer preço. Como o Dízimo cultural, criado e aplicado em várias ocasiões, pelo grupo Trama. Prevê que o espectador pague o que quiser. Já receberam de tudo: R$ 1, R$ 50, vale-transporte e até bilhete manuscrito com os dizeres: “Adorei a peça, mas não tenho dinheiro”. O objetivo, explica Patrícia Matos, produtora do grupo, é democratização do acesso à cultura. Já foi usado para chamar público para montagem com pouca audiência. “E deu certo, proporciona outros retornos que não o financeiro e é experiência importante de troca com o público”, observa. Patrícia Matos avisa que para praticar o dízimo é preciso que o grupo tenha subsídio ou patrocínio, já que montar um espetáculo tem custos que vão além do que é arrecadado com contribuição voluntária. Dá uma dica para quem anda procurando bom teatro e preços bem acessíveis: os grupos alternativos, com sede própria, costumam ter programação o ano inteiro com preços baixos.

Assinaturas

O sistema de assinaturas foi adotado com sucesso há um ano pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. O grupo vendeu 928 assinaturas e ambiciona chegar aos 1 mil assinantes. “É aprovação do que estamos fazendo”, comemora Diomar Silveira, presidente do Instituto Cultural Filarmônica. “Para o público significa o conforto de poder escolher o lugar e ingressos entregues em casa. Para nós, a possibilidade de planejamento, o que se traduz em qualidade de programação”, avalia. Ou seja, contrato “com os melhores artistas do mundo”, com um ano de antecedência, evitando atropelos de última hora ou improvisos. A assinatura é oferecida entre outubro e janeiro, dá direito a 20% de desconto no preço dos ingressos. A mais completa, com direito a 18 concertos, na plateia 1, custa R$ 648; a mais barata, para oito concertos, na plateia superior, custa R$ 128.


Lotes

As promoções na área dos shows ganharam a forma de lotes de ingressos com preços diferenciados, enquanto durar “o estoque” de cada um deles. Em média são três lotes por espetáculo, podendo chegar a cinco. O primeiro é o mais barato (com desconto de 30% a 50%) e é oferecido, em geral, de 45 dias a uma semana antes do evento. A estratégia, conta Carlos Alberto Xaulim, da Cadoro Eventos, visa a testar a recepção do espetáculo, criar mídia espontânea e pode ser forma de capitalização. Varia de acordo com o tipo de evento (pode ou não ter arquibancada, cadeiras, mesas), o número de lugares do local onde é realizado, entre outros fatores. “Em qualquer dos casos, para o público a vantagem é financeira. E tranquilidade na compra do ingresso”, afirma o produtor, contando que, hoje, a venda de ingressos na hora do shows é pequena.


No escuro

Há ainda, lembra Carlos Alberto Xaulim, um tipo de ingresso ainda mais barato que o do primeiro lote, que é conhecido como “no escuro”. É o caso de um interessado que compra um abadá para micareta sem saber quais artistas vão participar dos shows. “É ação que se volta para público que é cliente do evento”, explica. Com relação ao cancelamento dos shows, por falta de público, o produtor explica que é problema que pode ocorrer. A regra é a devolução do dinheiro. A não devolução do valor pago, em Belo Horizonte, segundo ele é raro (“acontece mais no interior”). Inclusive, observa, porque as casas maiores têm sido mais rigorosas na avaliação de propostas e currículo de produtores que se propõem a trabalhar no local.


Passaporte


As promoções também chegaram ao cinema. Não é raro sessões especiais com preços diferenciados. Ou os ingressos para a primeira sessão do dia com preço único. Horários como os das 14h e 15h podem parecer impróprios. Mas Kenia Ribeiro, assistente de programação do Usina de Cinema, conta que vende, em média, no caso dos filmes mais conhecidos, 70% dos lugares da sala, estando entre as sessões mais concorridas do local. O grupo tem ainda passaporte ao preço de R$ 60, que dá direito a pagar meia-entrada durante um ano em qualquer horário. São vendidos, em média, 700 por ano. “O objetivo é fomentar o hábito de ir ao cinema”, explica Kenia, contando que o brasileiro ainda vai pouco ao cinema. O passaporte, explica, é para quem gosta de cinema e não tem outro tipo de carteira que permita pagar meia-entrada nas salas de exibição.



Nenhum comentário: